sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Nós.


é isso que acontece quando deito
quando penso
quando tenso tudo fica em silêncio
e eu, quieta fora, quieta dentro, com uma musica de fundo, sempre
me vem um nó, que não se desfaz ao decorrer da semana
me amarra a perna, uma só
me amarra os braços, é, os dois
e circula por todo o meu peito,
até que acordo
e é aí que tudo está perdido
ainda fico deitada
ainda penso
mas sem tensão, aqui fica um barulho
eu queita fora, e festa dentro
nó se desfaz ou termina de me apertar
e levando, continuo
quieta fora, calma dentro, sem barulho, sem silêncio.