segunda-feira, 28 de junho de 2010

De volta ...

E de cima de um ônibus eu via um homem, o mesmo homem de sempre, que me olhava com a mesma expressão de sempre. Desci.
Entrei em uma ótica e não havia ninguém, ameacei
usar o telefone, ligar para a polícia mas não sei porque não fiz. Voltei apressada pra casa, sabia exatamente o que aconteceria, as pessoas que encontraria e o que me faltaria.
Tinha uma confusão enorme acontecendo, a mesma de anos atrás, mas não tenho certeza se era exatamente aqui, só sei que era tudo muito igual, havia a mesa de canto com telefone na casa da minha avó, o desespero para telefonar e nunca conseguir, até que me vi em casa, tentei telefonar mais algumas vezes mas nenhum dos telefones e nenhum dos celulares funcionavam, o número 190 ao ser digitado era 43 alguma coisa...é sempre a mesma coisa. E finalmente eles chegaram.
O homem de cabelos enrolados e camiseta azul chegava com uma faca na mão, as outras pessoas que com ele vinham pareciam cangaceiros, mas eles nunca entravam, o homem de cachos sempre quer cuidar de tudo sozinho.
E ele entrou pela janela, todos por aqui o encaravam e enfrentavam os outros que estavam lá fora, mas o homem sempre vinha na minha direção. Eu só tinha um martelo. A imagem das pessoas na cozinha, uma mulher bem mais velha lavando a louça enquanto toda confusão começava, a gaveta vazia com apenas colheres e conchas incapazes de ferir alguém.
O homem vinha com uma baita faca afiada e eu o esperava no canto da parede da minha sala de jantar, só esperando ele passar pra lhe dar uma grande martelada na cabeça. Ele passou, não tive coragem e logo que o vi comecei a chorar (tenho a impressão de que quando isso acontecia ainda criança eu era bem mais corajosa, dessa vez nem cheguei a ver o final) . Ele, não muito alto e nem muito forte, conseguiu me jogar em cima da mesa, e segurando meus pulsos, apoiando a ponta da faca em um deles, me dizia coisas horríveis que meus gritos abafavam, essas não consegui gravar nunca.
Meu grito era alto e forte, como sempre foi, eu via os dentes dele, o martelo ainda em minha mão e nenhuma força para reagir, nem coragem para deixa-lo banguelo, até que olhei o corte em meu pulso, pessoas correndo atrás dele, eu ainda gritando, e os tiros que gritavam lá fora.
Eram rojões em comemoração aos gols do Brasil. Acordei com o corpo todo marcado, e marcada mais uma vez por um sonho que sempre volta, ele sempre volta...

3 comentários:

  1. PERFEITO, consigo sentir sua apreenção entre as palavras, na minha opinião seu melhor post...;p

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  2. cala boca Kurupi...sua Narceja ><
    eh terrivel isso...não vou dormir agora ¬¬
    ain credo ><

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  3. Nossa...sinceridade?! Já pensou em escrever um livro? de cronicas..sei lá,arrepiou! Senti sua agonia daqui.

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